por Luiz Cesar Pimentel
@luizcesar

Há duas situações que me trazem esse sentimento.
A primeira é quando me pedem uma daquelas listas de melhores do ano.
Claro que depois dou aquela comparada com as dos colegas. Sempre me deparo com listas descoladas, sacadas, diversificadas. A minha fica parecendo um daqueles carros que não se reconhece a marca, tipo um Onix bege numa feira de veículos tunados.
Ainda mais se o pedido é para listar entre gêneros variados. Fico embasbacado como podem ter gosto tão apurado e diversificado para pular de hip hop para o jazz, R´n´B e metalcore.
A segunda situação que me faz sentir um farsante é quase diametralmente oposta à primeira - perder a certeza de que sou headbanger.
Acontece muito.
Em minha defesa, recorro a dados científicos. As métricas das plataformas de streaming cravam que ouço uns 70% de metal sobre 30% do restante.
Só que quando eu salivo ao cair um som randômico do Vicente Celestino, Morrissey, Flaming Lips ocupando a total ausência de progressivos tradicionais, metal operístico ou combinação de ambos, fico me perguntando se sou o único a não ver graça alguma em Rush, Nightwish e quetais.
Onde está afinal aquela personalidade que escuta há quase 40 anos um: “ah, quando você amadurecer pulará de Sex Pistols para John Coltrane”?
Sinto muito, Luiz de quatro décadas atrás, mas seu gosto para música continua infanto-juvenil.
Escuto hoje com o mesmo tesão o Never Mind the Bollocks, do Sex Pistols, e o High Voltage, do AC/DC - minhas duas primeiras aquisições na vida.
Por quê, Rob Halford? Por quê, Tony Iommi? Por quê, deuses e padrinhos do metal?
Claro que nesse surto de confusão mental e desorientação, sem saber o que fazer com minhas playlists cada vez mais frankensteins, troquei o Spotify pelo Google e parti para investigação.
Descobri estudos (sim, estudos) que me diagnosticaram.
Num, percebi que música é uma das únicas coisas que ativa praticamente o cérebro inteiro.
Noutro, que música deveria ser mais utilizada para tratamentos de dores crônicas, enxaquecas e para melhorar imunidade.
Num terceiro, que música apropriada beneficia coordenação, reduz quantidade de energia gasta em atividades físicas e aumenta a disposição - estava explicada minha playlist de corrida cheia de blastbeats.
Cheguei a uma tese que apontava que, para realização de exercícios, 42% das pessoas optam por rock, 17% por eletrônica, 10% por música clássica e apenas 4% por hip hop.
Qual um Dr.House uni todos os pontos.
Eu gosto mesmo é de música com energia, vigorosa, que respinga suor e lágrimas.
Seja na porradaria thrash ou no exagero sentimental do Nelson Gonçalves.
Agora sinto confiança ao bater no peito e assumir que acho o “Operation: Mindcrime” um porre.