por Luiz Cesar Pimentel
@luizcesar

Juro que não é título de efeito para caçar sua atenção.
Tá legal, é um pouquinho. Mas bem pouco. E se você assistiu às quase nove horas do documentário tríptico Get Back, lançado em novembro, sabe do que estou falando.
Pois tudo o que sempre soube dessas sessões que originaram o documentário é que havia sido o canto do cisne beatle, de onde arrancaram músicas na bacia das almas.
Só que essa narrativa só pode ter partido por dedução, dados os elementos que a cercaram.
Colocando em contexto, os Beatles entraram em estúdio com câmeras (o diretor Michael Lindsay-Hogg captaria material para um especial de TV, Beatles at Work, em princípio) no começo de janeiro de 1969, dispostos a produzirem um disco.
O resultado das filmagens foi lançado em maio de 1970, quando o grupo havia acabado e entrou para a história como registro do fim da banda.
Só que não é nada disso que se vê com a recuperação do material, transformado no documentário atual, dirigido por Peter Jackson (da saga Senhor dos Anéis).
O que se vê é a revelação da queda por terra da malfadada versão d´as “últimos horas do maior grupo da Terra”.
Yoko Ono, que após o filme original entrou para a história como pivô da separação, passa batida na nova produção. Só fica ao lado de John Lennon o tempo todo, muito provavelmente porque estavam na fase mais grotesca de vício em heroína - essa é uma parte um tanto triste, pois John está meio que um zumbi nas sessões.
Mesmo assim, 90% do filme (ou mais) são eles sacaneando um com o outro, com os próprios Beatles, com tablóides ingleses e com tudo o que os cercava.
É incrível como eles não tinham (ou não demonstravam) noção da própria grandeza.
Os caras tinham lançado um mês antes o Álbum Branco, lançariam durante as sessões a trilha de Yellow Submarine e meses depois, Abbey Road. Só isso.
Há momentos incríveis de alquimia, que demonstram que até nossos heróis não são perfeitos. Os caras penavam para arrancar composições para o disco, até que George Harrison convida o tecladista Billy Preston para visita.
O cara chega no maior astral, coloca piano em uma música e faz-se a luz. os semblantes brilham e a mágica acontece diante de nossos olhos.
Tem ainda a substituição de George Martin por Glyn Johns, o maravilhoso show e bastidores no terraço da Apple, o abandono de George da gravação, os caras apresentando pela primeira vez para os outros pérolas como All Things Must Pass e ninguém dando muita pelota, o quão fraco é o Ringo musicalmente, e nada disso é spoiler, pois assistir é uma dádiva imbatível.