
por Luiz Cesar Pimentel
Tá legal, não foi tãããão devastador assim, pois não foi exatamente inesperado. Mas agora que consegui sua atenção, saca só o conteúdo do áudio.
Veio de amigo de infância, num daqueles grupos de futebol, cerveja e rock´n´roll típico de amigos de infância. Esse amigo dizia com o fígado umas coisas tipo: “agora é que só vou pensar em mim mesmo, quero que todo o resto se exploda (f*#@, na verdade)”, “fulano e sicrano (dois amigos empresários), mandem embora todo mundo que votou no PT. No meu consultório (ele é da classe médica) não pisa ninguém que votou no Lula” e “vou continuar ganhando dinheiro pra cacete (c@#@%&#, na verdade) e vocês que se lasquem com o Lula”.
Não foi surpreendente mas desceu com amargor de óleo de ricino.
O amargor você certamente já sacou a razão, mas explico a minha não-surpresa.
Ele e todas essas pessoas nem sabem por que são tão imorais e mesquinhos assim. Mas eu tenho uma forte desconfiança.
O que acontece é reflexo da aporofobia (aversão aos pobres) do Paulo Guedes e cúpula do governo atual.
Os governos Lula tiraram milhões da miséria, como nunca antes.
Pode ver que a classe média média média é que tem maior tendência fascistóide.
Simplesmente não concebem que um preto, pobre, desfavorecido de nascimento, possa ter a chance de comer a mesma comida que ele, possa ter a chance de viajar para o mesmo lugar que ele ("empregada doméstica indo para Disneylândia, uma festa danada" (Guedes, Paulo). Lembra da coluna da Danuza Leão em 2012? "Ir a Nova York já teve sua graça, mas, agora, o porteiro do prédio também pode ir, então qual a graça?"), que possa correr o risco de encontrar o ascensorista num restaurante.
Por isso se dizem conservadores. Não é o conservadorismo de costumes, mas dos "privilégios" de nascença de viverem em condição mesmo que de merda contanto que lhes dê a falsa ideia de superioridade. Pode ver, é o cara que teme taxação de grandes fortunas e tem uma SUV financiada.
Aqui em São Paulo sabe onde aconteceu a maior vitória de Bolsonaro? No bairro do Tatuapé, onde o atual presidente levou por 59% a 41%. E sabe qual é a principal característica do bairro atualmente? Foi coalhado de condomínios de classe média, cercados por muros onde é concebida uma bolha na qual a maioria dos moradores se sente “elite”. Não tem coincidência aí.
É por isso que quero que meus filhos conheçam o mundo.
Quero que descubram um universo em que no Japão, CEOs varrem a calçada das ruas onde moram; em NY, pessoal de Wall Street usa o metrô para ir ao trabalho; na Suécia, são os pais que fazem a faxina das escolas onde os filhos estudam; em Paris, o que distingue a elite é o conhecimento. E poderia listar muito mais exemplos. Mas você entendeu meu ponto, né?