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homem segurando bicicleta

Music isn't everything, but it's pretty fucking close

por Luiz Cesar Pimentel

@luizcesar



Uma das minhas atividades profissionais é aplicar media training.

É uma aula para artistas (ou executivos) sobre como se comportarem perante a mídia.

Quero usar dois casos recentes como ilustração para este texto.

Dois artistas jovens, contratados pela mesma gravadora (major).

Quando pedi informações sobre eles, o que recebi foi a mesma frase: “são dois new faces da música urbana”.

Se não me engano, a menina tinha recém completo 18 anos e o menino, 20, se tanto.

Não tinham uma música gravada, nenhum registro em áudio.

Mas já tinham um planejamento de marketing, baseado no potencial mercado “urbano” (rap, trap, grafite, break, skate) de suas “new faces”.

O garoto explodiu. Já a menina continuam tentando emplacar em veículos de moda e como influencer.

Não estou a desmerecer o potencial das redes sociais ou fazendo pouco da importância que têm na vida de quem nasceu com esse mundo já formado. Até porque tenho duas filhas pré-adolescentes e mergulho profundamente na sociologia das redes para não ser o pai idiota que sequer ousa mensurar a importância que aquilo têm para quem joga o jogo.

O que quero entender é quando foi perdido o vínculo saudável entre imagem e arte musical.

Não vou recorrer ao chavão de que “imagem não é nada; talento é tudo”.

Imagem é importante, sim. Mas apenas como código de referência.

Quem garimpou novidades flipando discos na vida sabe bem sobre o que falo.

Comprei o que o dinheiro permitia no escuro pelas mensagens que a imagem da capa, dos integrantes, me passava. Ainda faço isso muitas vezes na seção Backstage, aqui nesta Roadie Crew.

O que pondero é a dúvida se estamos sendo omissos demais ao não participar do jogo das redes e permitindo que a indústria tome nosso lugar como curadores musicais e enfie goela abaixo o que lhes for mais lucrativo.

Pois é o que acontece na tal e atual “democracia musical”. Somos convencidos a acreditar que tudo é melhor por termos acesso a absolutamente tudo no momento que quisermos.

Mas na prática a garimpagem não é pela flipagem de discos, mas por algoritmos que bombardeiam “sugestões baseadas em nosso gosto”. E bem sabemos que som não é indexado por algoritmos.

Quando nos damos conta, somos bois conduzidos às fileiras do matadouro para satisfazer uma expectativa de cliques, em processo que se retroalimenta.

Dei uma grande volta para sugerir que o ambiente não está saudável tendo a imagem como protagonista absoluta. Imagem é superficial; música é profundidade. Imagem mais afasta do que aproxima; o contrário da música. Pois música é tudo, ou bem próximo disso.

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