Festival de 12 horas teve 11 bandas pesadas; Sepultura, Pantera, Judas Priest e Slipknot entre elas
por Luiz Cesar Pimentel (com ajuda de Lola e Gael)

Dava até para cantar versão de “Era um domingão/ Tinha muito sol/ Meu avô na frente/ Minha avó atrás/ O meu pai guiava/ Minha mãe falava/ Minha irmã chorava” no festival pesado que o Anhembi, em São Paulo, recebeu no domingo de final de Copa do Mundo - o Knotfest 2022.
O evento é promovido pela banda Slipknot, que sendo tão pesada e assustadora, com nove integrantes com máscaras próprias para filmes de terror, agrada desde os fãs hardcore de som extremo até crianças.
E foi reflexo disso que se viu (desculpe o trocadilho) desfilar pelo Sambódromo do Anhembi, já que em organização cronometradíssima as bandas se alternavam em dois palcos, um a cada extremo da passarela do samba.
Três gerações se misturavam, por vezes no mesmo grupo familiar, e se diluiam no mar de camisas pretas presente ao Knotfest. Nos gostos estampados nos peitos, o pódio era formado em ordem por: Slipknot, Pantera e Judas Priest. Ao menos a partir da hora em que cheguei ao local, já que a incrível disputa final da Copa do Mundo me segurou diante da TV até o instante em que o Sepultura pisava no palco, às 15h.
Infelizmente, perdi assim Black Pantera, Oitão, Project 46, Trivium, Vended e o próprio Sepultura, na sequência que teve início às 11h da manhã.
Cheguei para ver e ouvir (do lado de fora ainda) o Mr. Bungle, que trouxe formação das melhores, com Scott Ian (Anthrax, na guitarra), Dave Lombardo (eterno Slayer, na bateria), Trevor Dunn (baixo), além do líder Mike Patton (Faith no More, vocal).
O grupo mantém peso e diversão desde o começo dos anos 1990, como projeto paralelo de Patton. Lançaram ano passado disco com composições dos anos 1980, que formou boa parte do set-list. Uns covers sensacionais de Slayer (“Hell Awaits”), S.O.D. (“Speak English or Die”), Circle Jerks (“World up my Ass”), e gran finale com o vocalista do Sepultura, Derrick Green, cantando “Territory”.
Nem bem deu último acorde, já se fazia ouvir do outro lado o Pantera. Na real o grupo é um tributo ao Pantera, com o vocalista Phil Anselmo, sendo que nem o baixista original, Rex Brown, pôde se apresentar, pois contraiu Covid durante a perna sul-americana do Knotfest.
Ocupavam os lugares dos irmãos falecidos Dimebag Darrell e Vinnie Paul o guitarrista Zakk Wylde (famoso com o Ozzy) e o baterista Charlie Benante (Anthrax), respectivamente.
Pantera é o tipo de grupo que faz a todos se sentirem roqueiros malvados, dado o peso que conseguem imprimir e uma cadência própria para todas as idades, na maioria das vezes. Serve para criança pular e para tiozões (eu incluso) adotarem a postura clássica em shows do tipo, com uma perna um pouco à frente, o braço contrário segurando copo de cerveja na altura do peito e um leve balançar de cabeça no ritmo.
Phil Anselmo prestou homenagem aos irmãos fundadores em bonito cover de “Planet Caravan”, do Black Sabbath. Mas também foi a hora que grande parte do público dispersou para assistir o Bring me the Horizon.
Os ingleses são a típica banda que me faz sentir velho. Um peso artificial e linha bem mais emocore do que o metalcore que alardeiam não me convence de jeito nenhum. Eles têm alguns sucessos (que me foram apresentados pela minha filha de 12 anos; sim, eu também era o pai-roqueiro no domingão, já que levei minha filha do meio e meu caçula, de 7 anos, ambos fãs de Judas e Slipknot), mas seguirão distantes das minhas plataformas de streaming.
Entramos então na parte noturna do festival, quando Rob Halford entra no palco com a clássica combinação “The Hellion/Electric Eye” - e o refrão a ser bradado por três gerações rockers: “I´m made of metal”.
O grupo veio em turnê comemorativa de 50 anos de trajetória e é o maior causador de air guitars da história do metal. Graças à dupla de guitarristas originais K.K. Downing e Glenn Tipton, criadores das guitarras gêmeas no metal e que é das principais assinaturas do NWOBHM (New Wave of British Heavy Metal), no comecinho dos 1980.
Essa bandeira é cravada com a clássica entre os clássicos da banda “Breaking the Law”. Além de serem provavelmente a banda mais querida do gênero, com homenagem garantida no corrente ano quando foram introduzidos no Rock´n´Roll Hall of Fame.
Aí vem o Slipknot para fechar a noite. Havia assistido-os há uns 15 anos, e a impressão de se estar vendo um filme de terror em formato musical transportado para o palco permanece. A sucessão de mascarados correndo por todos os lugares, espancando percussões, batendo cabeça, somado aos timbres tão pesados quanto incríveis que tiram de guitarras, bateria e tudo o que pode ser sonorizado no palco, é de assustar.
E que frontman incrível é Corey Taylor. Além de ter vocal apropriadíssimo para o som que o Slipknot executa, tem um carisma dos infernos.
Missão dada, noite (e manhã e tarde) conquistada (s) e dormimos com a promessa de um novo capítulo da saga familiar roqueira com o anúncio do Monsters of Rock e do Summer Breeze, para meados de 2023.