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homem segurando bicicleta

Juan Brujo: 'Todos que passam pelo Brujeria ficam ricos e famosos, menos eu'

por Luiz Cesar Pimentel



O Brujeria demorou 14 anos para começar a se apresentar ao vivo e 15 para vir ao Brasil. Mas desde que vieram, não pararam mais. No final de 2019 desembarcaram pela sexta vez por aqui. Na bagagem, a mesma música extrema em sonoridade e mensagem política.

Baseado na figura do vocalista Juan Brujo, o grupo constrói seus textos sobre sua própria história - a mensagem de um americano de origem mexicana vivendo nos Estados Unidos. Com uma raiva extra atualmente, já que o presidente norte-americano Donald Trump se elegeu com a promessa de cessar o fluxo migratório com a construção de um muro separando os países.

Brujo fala sobre Trump, o "bebê Trump" (como se refere ao brasileiro Jair Bolsonaro), os anos calados, entre 2000 e 2016, em que não lançaram música nova e invasões do FBI à sua casa.

Vocês estão celebrando 30 anos de Brujeria este ano e queria saber se algo mudou no propósito da banda desde que vocês começaram. Quero dizer, são três décadas…

É um longo tempo mesmo. No começo nós éramos dessa atitude hardcore, tipo: ´Vamos foder com tudo´, cobrir os rostos com máscaras, bem underground. Só que isso começou a crescer e crescer sem controle.

Nós não nos apresentávamos ao vivo, não fazíamos shows, até 2003. Quer dizer, tocamos umas músicas aqui e ali, mas nunca um show do Brujeria nem uma turnê. Aí alguns membros começaram a tirar as máscaras, dizer quem eram. Mas até agora ninguém sabe quem eu sou, quem o Juan Brujo é (risos).

Se pensar no mundo, se você disser que se passaram 30 anos e que muita coisa mudou, nós vemos que na política pouca coisa realmente mudou. Se quando vocês começaram tinha o Pete Wilson (político norte-americano conhecido pela perseguição a imigrantes) hoje você tem o Trump.

Pois é, as coisas foram melhorando cada vez mais. Basta ver que de 2000 a 2016 o Brujeria não lançou discos. Aí vem o Trump e parece que voltamos 50 anos no tempo. Todo mundo começa a se odiar novamente. Virou uma loucura. Sem liderança nenhuma. É só merda, não dá para acreditar em nada do que ele fala. Foi como voltar para 1960. Aí você pensa: ‘Não, de novo não!´. Poxa, desde o Pete Wilson em 2000 tudo vinha melhorando e de repente vem essa queda total.

Mesmo na maneira de vocês produzirem música. O Brujeria lançava discos e agora está lançando singles.

É que não tinha nada para falar nessa época (entre 2000 e 2016). Quero dizer, eu encontrei o Pete Wilson em 2000 e falei: ´Temos que soltar um disco já!´.

Quando soltamos o primeiro single do Trump ele nem estava eleito, era apenas candidato. Aí ele ganha e somos obrigados a soltar mais um sobre o presidente Trump, pois é muita merda junta.

Além disso a banda teve problema com a imagem dele com a cabeça cortada…

Sim, uma camiseta do Brujeria com a cabeça cortada do Trump começou a ser vendida no walmart.com. Ele começou a perseguir muita gente e a próxima cena é o FBI e o serviço secreto batendo à minha porta, todos vestidos com roupas à prova de balas e empunhando armas. Eles pensavam que eu estava iniciando uma nova revolução com um exército underground, algo assim. Isso aconteceu há poucos meses.

Você teve problema parecido com Matando Guero (disco de 93 que traz na capa a cabeça de um traficante cortada por cartel mexicano)?

Sim, no dia em que foi lançado 25 países proibiram o disco, pois diziam que era racista ou o que quer que seja. A gravadora não colocou um adesivo de alerta na capa, pois como era cantado em espanhol acharam que ninguém se importaria. Aí todos os discos começaram a voltar. E não só os do Brujeria, mas todos da Roadrunner. Foi então que me procuraram e perguntaram: ´Que porra está acontecendo?´. Nós pensamos: ´Caramba, funcionou´.

Ninguém entendeu sobre o que era o disco e só deduziram que tinha a ver com racismo ou ódio. E isso foi um tipo de racismo em reverso. Mandamos de volta para eles um pouco do que recebemos. Na Alemanha foi….(gesto de corte total).

Na época vocês estavam mais preocupados com a situação no México. Só que atualmente a coisa se espalhou e temos uma convulsão generalizada na América do Sul, desde o México passando por Bolívia, em todo lugar.

Sim, tudo está ficando maluco. Você vê pessoas como Trump se tornando presidentes. São pessoas que fazem o que for preciso para se manterem populares. Eles não se preocupam com o próprio povo ou país. Nessa volta de 50 anos, lá atrás nem existiam computadores. Hoje eles calam sua boca bloqueando sua comunicação. Ou mandando o FBI na sua casa, para garantir que nada saia do controle. Mandam caras atrás de pessoas como eu. E tudo o que tinha para falar para eles era sobre liberdade de expressão e que não iriam encontrar muitas armas ou munição na minha casa. Eles vasculharam e perceberam que eu não era parte de uma conspiração estilo Che Guevara. Mas o ponto que chegamos é o de mandar militares atrás de pessoas que fazem discos.

Nós temos nosso próprio Trump, o Bolsonaro.

Sim, sim, ele é o bebê Trump. É exatamente o mesmo, exatamente o mesmo. É uma cópia.

Eu postei no Facebook: ´Esse cara é igual o Trump´. No dia seguinte me baniram do Facebook e eu: ´Ah, meu Deus´.

Muitos países estão passando pelo mesmo. Não sei se é uma Praga Trump. Ou vírus Trump.

E já que é sua sexta vez no Brasil, você enxerga diferenças no país desde a primeira vez que veio, em 2004?

O dólar está mais valorizado agora e existe uma diferença bem grande. Mas aparentemente o país parece muito melhor do que antes, tirando por base São Paulo. Parece que estou nos Estados Unidos. Antes parecia pior. Hoje parece melhor do que nunca.

Isso é opinião de um estrangeiro. Está bastante bonito. Parece tudo muito bem. A juventude parece estar ganhando vida. Ainda não se envolvem com política. Caso se envolvessem, derrubariam a situação rapidamente. Mas não parecem se envolver.

Uma última pergunta. O Brujeria parece um amuleto para outras bandas. Pelo grupo já passaram integrantes que depois fizeram sucesso no Fear Factory, Carcass, Napalm Death…

É mais do que isso até. Todos os caras que passam ficaram ricos e famosos. Menos eu. Sou o único que continua na mesma.

Desde o começo foi assim. Começou com o Faith no More. Aí foi Fear Factory, Carcass...Os caras vinham e me falavam: ´Ah, não estou fazendo nada...´. Eu dizia: ´Vem tocar com a gente´. Aí o Carcass...bum...explode.

Você tem planos futuros para os próximos 30 anos da banda?

Hahaha. Não sei. Agora com o Trump temos bastante coisa a falar. Temos bastante para brigar. O próprio Trump sabe quem eu sou.

Nós começamos há 30 anos falando: ´Vamos foder com esses caras´. E chegamos ao topo.

Agora não sei se eles virão até mim e me ´desligarão´. Eu sou um criador de problemas, estou na lista (negra).

Do FBI

Sim, FBI, serviço secreto.

Muito obrigado.

Gracias, saludos a todos.

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