por Luiz Cesar Pimentel
@luizcesar

A guerra na Ucrânia é oportuníssima.
Dito isso, garanto:
Não se trata de frase em tentativa lacradora de início de argumento; é justamente o contrário.
Chegarei à música, que é o que nos concerne e une por aqui.
Vamos lá.
A guerra na Ucrânia é oportunista porque o mundo está cada vez mais chato, burro, preconceituoso, pois binário.
As pessoas parecem só conseguir raciocinar se colocadas sob duas opções. Doce ou salgado, seco ou molhado, eletrônico ou orgânico, Rússia ou Ucrânia, zero e um.
Lembra muito a nós mesmos, adolescentes headbangers nos anos 1980, quando dividíamos a esfera musical entre true e false metal.
Mas éramos crianças (ou quase), tremendamente apaixonados por um gênero recém-descoberto e tentando criar matrizes de onde tudo partiria.
Mea-culpa feita, estamos falando de nós como bilhões de seres humanos em sociedade, algo um tanto maior do que o Eric Adams definia como merecedores de viver ou morrer.
Aí chegamos ao segundo ponto prometido: e o que é que a música tem a ver com isso tudo?
Tem tudo a ver.
Basta observarmos a história.
Aposto um rim que nem a soma de todos os cultos carismáticos neopentecostais (bastante populares no Brasil) até hoje inspirou e fez mais pela paz do que John Lennon com "Imagine".
A condição não é apenas contemporânea.
Na Revolução Francesa, entre 1789 e 99, as canções de protesto conduziram a "La Marseillaise" ("Allons enfants de la Patrie/ Le jour de gloire est arrivé." "Avante, filhos da pátria/ O dia da glória chegou.") a hino não-oficial do movimento, à vitória sobre a monarquia e a hino oficial da nova república.
Foi assim na Estônia (situação parecida até com a atual), quando as canções nacionalistas motivaram o festival "Song of Estonia", de oposição e pela liberdade à União Soviética - ¼ da população do país compareceu (umas 300 mil pessoas) e se uniram até virarem república. Não à toa, o movimento foi batizado de "Singing Revolution".
Ou a Rádio B92 como principal instrumento de protesto ao governo de Slobodan Milosevic na Iugoslávia. Tem um livro bem legal sobre a emissora chamado: "B92. Rádio Guerrilha. Rock e Resistência em Belgrado".
Ou a geração hippie paz e amor, que nasceu na festiva Haight-Ashbury (área ao redor da esquina dessas duas ruas), em São Francisco, a promover o Verão do Amor e o fim da guerra do Vietnã.
Há mais exemplos, mas o espaço aqui é finito.
Que a música seja utilizada para nos livrar de uma ameaça nuclear e de um mundo cada vez mais em preto-e-branco.