por Luiz Cesar Pimentel
@luizcesar

Dois dias antes de escrever este texto, recebi mensagem do amigo Martin Mendonça: “Man, para onde mando material de artista que produzi?”.
Pensei um dia inteiro, pois não queria dar resposta frustrante nem que parecesse que não estava disposto a ajudar. Mas como para amigo não se mente, mandei na lata: “infelizmente para lugar nenhum. O mundo mudou”.
Mudou tanto que nos 20 anos que conheço o Martin, ele foi de guitarrista de uma das bandas de rock mais legais da história, o Cascadura, ao mesmo posto na Pitty e produtor de mão cheia (e ouvido absoluto).
E o mundo não apenas mudou como vem nos enganando.
O universo grita que “nunca na história da humanidade tanta música foi consumida e tanto material esteve à disposição para que escolhêssemos”. São duas meia-verdades que não formam uma.
A música vem sendo realmente consumida como nunca. Só que não com o protagonismo que merece, mas embutida em vídeos de dancinhas do TikTok ou Stories do Instagram.
Isso nos leva à segunda meia-verdade: o conteúdo está realmente à disposição para escolhermos. Só que quem pratica a escolha? Ouso dizer que você que está lendo este texto e eu que o escrevo.
Quando chega a Roadie Crew em casa, já separo papel e caneta para anotar as novidades que os redatores, colunistas, editores e repórteres da publicação recomendam.
Essa é a prática da escolha. Envolve o ritual de buscar a fonte, colher a informação e checar.
A pergunta do Martin pode ser traduzida por: quais são as fontes atualmente de informação musical? Isso de um cara que trafega no rock e na música há uns 30 anos e que toca em uma das principais bandas do país.
A tristeza em responder “nenhuma” foi sovada na minha mais recente participação em coletiva. O interesse comum dos jornalistas era que o artista gravasse um recado para o Instagram do veículo em que trabalhavam.
Culpa é dos repórteres ou dos veículos? Não.
Nós é que deixamos que a coisa se acomodasse com essa meia-verdade de que tudo está disponível para que sejam democraticamente eleitos nossos preferidos.
A real é que deixamos que o ser humano perdesse o senso aventureiro que tanto instiga na música, de descobrir um grupo ou sonoridade novos que fale à nossa alma ou ao nosso fígado.
Isso foi trocado pela escolha de rebanho.
O garoto faz parte de grupo definido por algoritmos (meus filhos, inclusive) e os programadores tacam na tela dele o que deve e provavelmente vai engolir - se não por gosto próprio, pela insistência.
Viramos os robôs.
Mas, enquanto é tempo, escuta o Dizin, o artista que o Martin produziu e saca os trabalhos do meu camarada em @mendezz