por Luiz Cesar Pimentel
@luizcesar

Estava com as mãos no teclado para começar a escrever esta coluna quando leio que o Hellacopters lançou disco novo. Vejo a foto promocional e percebo que o guitarrista original, Dregen, retornou à banda. Isso me faz voltar uns 18 anos no tempo.
À época, eu era sócio de uma revista de música e cultura pop, chamada [ ] Zero. Sócio era a ponta do iceberg, pois de fato éramos três amigos que faziam tudo - pautas, reportagens e até fotos. E, sim, ainda existiam reportagens e a figura do fotógrafo.
Voltemos ao fato.
Fui lá fazer uma pauta com conterrâneos suecos do Hellacopters, o Backyard Babies, a quem o Dregen então liderava.
Ele e o baterista (Peder) queriam conhecer uma voodoo shop. Sei lá se confundiram o Brasil com Benim ou Haiti. Sei que peguei a bola pingando e me ofereci para levá-los.
Fomos os três no meu carro numa loja de macumba (que era como chamávamos; hoje deve ter um nome bem mais “correto”. E chato.), na rua Augusta.
Chamei o pai-de-santo-dono de canto e expliquei que os gringos estavam em turnê e blablablá. Falei: “faz uma ronda pela loja com eles que eu traduzo” (e, de quebra, componho minha matéria).
Ele mostrava as imagens de santos, velas, colares e eu ia traduzindo do jeito que dava. Ponto alto foi quando nos levou a um cômodo no subsolo onde matava animais para os rituais. Quando eu disse que estavam no “altar of sacrifice” (não podia perder a deixa slayeriana), só ouvi um “ooohhhh” longo de admiração.
A foto que ilustra este texto é minha. E na mesma noite fui ao Hangar 110 cobrir o show da banda.
Conto tudo isso para chegar ao que seria o tema desta coluna. Ele (o tema) brotou da indignação de abrir a Ilustrada (Folha de SP) após o Lollapalooza recente e, tendo a importância musical histórica que o festival teve (apesar do fraco line-up), com morte do Taylor Hawkins, artistas unidos em manifestações contra censura etc., me deparar com página dupla sobre a “volta da moda periguete (nos eventos)” em página e meia e o restante para o dono da toalha da controvérsia que a Pabllo Vittar ergueu.
Sério?
Só que esta coluna seria para reclamação, que a tornaria pouco eficiente.
Preferi usá-la para contar história. Afinal, foi para isso que estudei - (tentar) levar a melhor versão das melhores histórias.
Mas uso-a também para manifestar pena do jornalismo cultural atual e, ainda mais, do público que tem isso que resultou da cobertura do Lollapalooza para consumo.
No final, espero tê-lo convencido involuntariamente a escutar o disco novo do Hellacopters, Eyes of Oblivion. Vale a pena.