por Luiz Cesar Pimentel
@luizcesar

Amigo headbanger, peço licença para contar uma história sobre causo funk que acontece nas redes sociais, pois ilustra em quais cumbucas estamos metendo a música de verdade.
Esta é uma história sobre As Tequileiras do Funk. É/era um grupo de garotas que nasceu na onda do funk de bundas e ostentação, lá por 2008, e que fez sucesso com uma música (e coreografia) chamada “Surra de Bunda”. O nome dispensa descrição.
As moças tentaram emplacar uma segunda chamada “Sentadão”, só que não pegou. O que as atingiu foi a efemeridade da música sem alma e 10 anos depois elas estavam vivendo de fotos e vídeos eróticos.
Até que um tal de DJ Shun remixou a canção, deu o nome de “Bass Da Da Da”, colocou no Tik Tok e na cena seguinte o vídeo já tinha milhões de refações - a rede chinesa vive muito de as pessoas pegarem um conteúdo, remontarem cena e coreografia, editarem e postarem. Até o Neymar mandou um “Bass Da Da Da” remix.
Pois bem. As moças ficaram sabendo, esfregaram as mãos e quando foram checar o que tinham a receber por direito (autoral) se viram em um labirinto de desrespeito artístico sem precedentes na história da música.
Não conseguiram descobrir quem era o tal DJ. Foram ao Ecad e ninguém soube lhes dizer a que tinham direito, pois a tradição geracional e de algumas redes de copyleft blinda piratas.
Faço todo esse preâmbulo para chegar no ponto que interessa.
Se quem nasceu educado nesse sistema é tratado dessa maneira, como são e serão aqueles que fazem música de verdade?
Não me sinto injusto nem elitista ao dizer que as Tequileiras do Funk não fazem música para valer. Não fazem mesmo, oras. Aquilo e toda essa vertente pode ser colocada como manifestação de comportamento, no máximo.
Mas já me desviava novamente do que interessa e peço desculpas.
Dado o caso, como você acha que serão tratados artistas que falam para público menor?
Esse é o ponto a que quero me ater.
Ouso apontar o dedo para o momento em que tudo começou a dar ruim para os artistas - veio quando deixamos que engenheiros decidissem os rumos de como a música seria consumida. Foi o ponto de inflexão em que a arte ganhou etiqueta de preço dada pelos mesmos engenheiros e exposição de acordo com a capacidade de choque (de audiência).
Sou da geração que reclamava do jabá, a prática de se pagar para que uma música tocasse na rádio.
Saímos disso e passamos para um suposto controle do ouvinte sobre o que escutaria.
Essa imagem foi celebrada como a democracia da música.
Nada mais falso que isso.
Assim, termino um texto da pior forma possível, com uma pergunta: quando nós, amantes musicais e artistas, retomaremos o controle sobre a arte para que não vire bullet point de planilha de engenheiro start-upeiro?